Há uma lacuna de financiamento para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU até 2030, estimada em mais de US$ 2,5 trilhões por ano. Aumentar o investimento do setor privado em países em desenvolvimento, como o Brasil, por exemplo, é essencial e estratégico para aterrar esta lacuna de financiamento. O uso de fundos públicos e filantrópicos para mobilizar investimentos privados é uma forma eficaz de atrair recursos financeiros que de outra forma não seriam canalizados para os países em desenvolvimento.
A mistura de capital ou capital híbrido (ou blended finance) é a tendência. No entanto, questões sobre adicionalidade, subsídio mínimo ou lavagem de impacto surgem rapidamente para os profissionais. Os princípios do blended finance – elaborados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) – fornecem orientação a esse respeito, por exemplo, que a combinação é limitada no tempo e evita distorções de mercado.
Ainda, de acordo com a OCDE, cinco aspectos podem ajudar a operacionalizar e usar o financiamento híbrido para gerar impacto:
- Assistência técnica e financiamento em estágio inicial para apoiar ideias inovadoras;
- Chamadas competitivas para aumentar a relação custo-benefício;
- Fundos catalíticos agrupados para obter melhores acordos financeiros combinados e alcançar escala;
- Relatórios de impacto de qualidade para mostrar a diferença dos instrumentos de operação;
- Apoiar relatórios de mercado para fornecer transparência e benchmarking como um bem público.
Blended finance tem no seu DNA a peculiaridade de se tratar de uma finança sustentável. Mas o que é finança sustentável? O financiamento sustentável refere-se à integração de critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) nos serviços financeiros. Uma abordagem que vai além do foco tradicional em lucros e perdas para considerar questões como as empresas respondem à crise climática e como tratam funcionários, clientes e acionistas, entre outros.
Cada vez mais, os investidores utilizam essa estratégia para avaliar riscos financeiros, identificar oportunidades e expressar seus valores.
E, por que as finanças sustentáveis são importantes? As investidoras de serviços financeiros desempenham um papel fundamental na transição para uma economia e uma sociedade sustentáveis. O financiamento sustentável desbloqueia o investimento para atividades econômicas e projetos que proporcionam melhores resultados para as pessoas e o planeta. Dessa forma, tem um papel fundamental a desempenhar no financiamento dos ODS.
A integração de fatores ODS e ESG nas decisões de investimento também pode ajudar a identificar riscos e oportunidades que a análise tradicional pode não revelar. Isso pode garantir investimentos à prova de futuro e, em alguns casos, aumentar os retornos.
E, finalmente, o que é o financiamento alinhado aos ODS? O investimento em ESG se concentra nas boas práticas e condutas operacionais: a empresa produz bens de maneira ambientalmente responsável? Está tratando bem seus trabalhadores? Envolve-se positivamente com a comunidade?
As finanças alinhadas aos ODS estão mais preocupadas com o propósito: quais produtos são produzidos e para quem? Eles ajudam ou prejudicam a sociedade? Eles consideram vários benefícios positivos, entre os resultados sociais, ambientais e relacionados à governança? Há uma consciência crescente da importância dos ODS como uma estrutura para finanças sustentáveis.
Muitos já divulgam informações sobre seu desempenho nos ODS juntamente com seus relatórios ESG. O que se percebe agora é que investidores tradicionais também estão se comprometendo com essa estratégia, reconhecendo seu potencial para abrir oportunidades e enfrentar desafios globais.
Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.