18/04/2023

Por que a INTR3S é parceira do Prêmio Empreendedor Social 2023.

Não há dúvida de que o mundo hoje enfrenta numerosos e graves problemas. Não é preciso gastar muito tempo ou esforço para encontrá-los – aquecimento global, pobreza, aumento da desigualdade econômica, fome, pandemias etc. Desenvolver e implementar soluções para esses problemas estão se tornando crítico para nossa sobrevivência.

Os negócios, particularmente um segmento crescente conhecido como empreendedorismo social, são cada vez mais reconhecidos como uma fonte eficaz de soluções para uma variedade de problemas sociais.

O empreendedorismo social tem o DNA da colaboração, e não a competição. Eis a chave para progredir sem reinventar a roda. Ao fazer parceria, os negócios buscam acelerar e expandir o compartilhamento de conhecimento e lições aprendidas que ajudarão eliminar as lacunas de acesso e sucesso por territórios, raça e renda.

A construção de parcerias tem um tremendo potencial de melhorar a reputação geral de um negócio social.

A capacidade de colaborar está se tornando uma importante fonte de vantagem competitiva na atual revolução industrial, uma era de mudanças rápidas e disruptivas.

Na corrida para desenvolver cada vez mais experiências memoráveis, expandir e capturar novas fontes que agreguem valor, os empreendedores estão descobrindo que o sucesso depende não apenas do que seus próprios negócios podem fazer, mas também das capacidades que podem alavancar em parceria com outros.

Há dezenove anos, o Prêmio Empreendedor Social tem o compromisso de construir parcerias. O desafio da 19a edição olha para três categorias: i. Inovação para o Século 21; ii. Inclusão Social e Produtiva; e iii. Soluções que Inspiram, além da votação popular Escolha do Leitor.

Pela primeira vez, em 2023, a investidora de negócios de impacto INTR3S entra na rede de parcerias do prêmio.

Agora, é uma parceira institucional do Empreendedor Social 2023. Como fomentadora de negócios de impacto, "o universal pelo regional" inspira a INTR3S. A investidora tem o compromisso no investimento das soluções dos problemas locais, sem esquecer o caráter universal do seu impacto.

A INTR3S está empenhada em expandir e dar capilaridade ao concurso. Do Ceará para o Nordeste, do Nordeste para o Brasil.  

Mas, como? Oferecendo a todos os finalistas convite para integrar programa de aceleração em 2024, em parceria com o Quintessa, com o objetivo de levar tecnologias sociais e/ou statups de impacto reconhecidas pelo prêmio para a Região Nordeste, onde o INTR3S atua, com a possibilidade de ao final do processo fazer investimento naqueles projetos/serviços mais promissores.

Reconhecendo essa ambição, a INTR3S busca, certamente, fortalecer suas parcerias, concentrando-se em prioridades selecionadas em conjunto e buscando uma abordagem de colaboração estratégica e coordenada, alavancando seus respectivos pontos fortes e ampliando seu impacto combinado, com base em colaborações novas e naquelas já existentes.

Estabelecer parcerias estratégicas assegura trocas de informações e uma coordenação necessária para se ter colaboração eficaz.

A fotografia a ser revelada pelo prêmio, em 2023, por certo, tem a direção do trabalho em conjunto, requisito básico para acelerar mudanças, da adaptação às tendências impulsionadas pela tecnologia, além de outros caminhos de fronteira e complexidades crescentes. Aproveitar as oportunidades apresentadas é fundamental para a inovação social do século 21 e a inclusão Produtiva, abordando as desigualdades dentro e entre as regiões do Brasil, sem deixar ninguém para trás.

A geração dos negócios de impacto social fortalece a máxima que “Não podemos resolver problemas usando o mesmo tipo de pensamento que usamos quando os criamos.” Até porque o empreendedorismo social não funciona como ilha, com negócios competindo independentemente uns com os outros pelo maior lucro e pelo capital humano mais brilhante.

Permanecer competitivo, sendo colaborador e construtor de um mundo melhor é mais desafiador do que nunca. Parcerias colaborativas são papeis que devem ser fomentados pelo investimento social privado. O investimento da INTR3S aponta para ação e para gerar prosperidade compartilhada.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

18/11/2022

O capital híbrido como modelo indutor do mercado de reciclagem

Vivo em Fortaleza, uma das capitais mais injustas do Brasil, mas que tem apresentado grandes oportunidades de negócios a partir da solução de seus problemas. Fortaleza é um grande laboratório social.

Nos últimos anos, a cidade investiu na bicicleta como alternativa de transporte, ampliando o espaço urbano para um modal ambientalmente correto que promove a saudabilidade da sua gente.

Essa ampla cobertura da malha cicloviária é uma janela aberta para mais mudanças. O desafio surgido agora está focado numa operação de coleta seletiva porta a porta. Queremos ser a cidade que mais recicla no Brasil. Em oito anos, a taxa de reciclagem será de 50%.

A transformação do mercado de reciclagem em Fortaleza passa pela combinação de três perspectivas indissolúveis: mobilidade, gestão e inclusão social e produtiva. A cidade busca alternativas para promover a logística de baixo carbono e o caminho escolhido foi a indução de triciclos de carga.

Fortaleza apresenta a terceira melhor taxa de reciclagem do Brasil, atualmente em 7%. Embora ainda baixa, busca fomentar negócios para estimular práticas mais sustentáveis na gestão de resíduos.

Os catadores são os principais responsáveis pela coleta seletiva no nosso país e seguem vivendo abaixo da linha da pobreza. Geralmente trabalham em condições desumanas e marginalizadas. Há que se valorizar e dar mais visibilidade, conforto e melhores condições de trabalho para os catadores.

Como criar uma modelagem econômica cuja destinação seja a criação de novos negócios que abordem essas três questões, considerando uma lacuna de financiamento para cumprir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12 da ONU até 2030?

O poder público de Fortaleza adotou o capital híbrido —ou 'blended finance', idealizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O desenho encontrado é uma iniciativa piloto em uma área de aproximadamente 90 mil pessoas. É uma integração estratégica de recursos sem fins lucrativos, recursos de fomento e desenvolvimento e capital privado em operações híbridas sob a mesma tese de impacto.

Trata-se do Re-Ciclo Fortaleza, cuja operação foi iniciada em agosto deste ano pela startup SoloS, vencedora de um edital na Central de Licitação de Fortaleza.

Os dados da primeira avaliação, aos 45 dias, revelaram que 16 catadores (sócios de duas associações), com quatro triciclos elétricos, realizaram mais de 1.250 coletas, gerando uma renda conjunta de aproximadamente R$ 45 mil. Além disso, 27 toneladas de matérias recicláveis foram coletadas.

É bom que se diga que os recursos de alavancagem aportados no Re-Ciclo Fortaleza são originários da prefeitura numa parceria com o Banco de Desenvolvimento Caixa Andina de Fomento (CAF), a agência alemã Giz e a iniciativa Tumi. A destinação financeira está direcionada para a infraestrutura social urbana, no modal de mobilidade sustentável e nos ecopontos.

Por outro lado, o capital de-risking é investimento social privado na veia. A investidora de negócios de impacto INTR3S e o iFood são as fontes de fomento e desenvolvimento.

É capital de geração de renda direta aos catadores e suas associações, da indução da economia circular do resíduo sólido, da modelagem do estudo de viabilidade econômica da operação e da mensuração dos impactos social e ambiental.

Na cidade de Fortaleza, o financiamento híbrido tem desempenhado um papel pioneiro. A parceria do governo local com bancos e agências de desenvolvimento, ao implantar capital híbrido e catalítico, abriu caminho para o capital privado seguir.

O Re-Ciclo Fortaleza fornece uma janela valiosa para um futuro de prosperidade.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

19/08/2022

Primeiro mapa de negócios de impacto do Nordeste revela brilho nos olhos de empreendedoras

Seja por necessidade ou pelo brilho nos olhos das "Antônias" visíveis, o Nordeste é celeiro para negócios de impacto. Essa é a grande mensagem que o Mapa de Negócios de Impacto do Nordeste 2022 traz em meio à turbulência que o Brasil vive.

A região tem sido capaz de enxergar o espírito da Antônia, empreendedora social que acredita em mudanças, e de outros que buscam e fazem algo para melhorar o futuro.

Antônia é protagonista dos negócios de impacto mapeados em uma área em que mulheres predominam como lideranças. Ela é muito mais que uma sonhadora, é a disseminadora de sonhos que, de tanto acreditar, transforma. É o brilho nos olhos do que há de melhor no Nordeste, a sua gente.

O Mapa de Negócios de Impacto do Nordeste foi anunciado em 17 de agosto na Federação das Indústrias do Estado do Ceará – Fiec. Ter a casa da indústria como espaço de lançamento é ratificar o compromisso dos grandes negócios em contribuir com outros que têm a intencionalidade de gerar benefícios sociais, ambientais e financeiros.

A iniciativa de elaborar um primeiro levantamento de dados dessa natureza, na região nordestina, nasce de uma crença da investidora de negócios de impacto IN3. Acompanhar e entender dados regionais são fundamentais para ter o dedo no pulso do mercado local.

O intuito maior é fomentar o impacto positivo e buscar caminhos para desenvolver e apoiar cada vez mais empreendedores regionais.

O Mapa serve como lupa aos olhos das "Antônias Nordestinas"—não de forma sonhadora e apaixonada, mas de maneira que a sociedade conheça essas visões de futuro e reconheça a riqueza produzida por estas pessoas.

De forma criteriosa, a Pipe Social, por meio da PipeLabo, segmentou os negócios de sua plataforma digital que se autodeclararam localizadas no Nordeste e que estavam no 3o Mapa de Negócios de Impacto do Brasil, lançado em 2021.

As análises da Pipe.Social apontam um volume crescente de soluções do Nordeste que vêm crescendo e a crença é que há muito mais a se descobrir no contexto de impacto, já que a região é rica em inovação e startups, assim como em impacto ambiental e na área de educação, por exemplo.

Monitorar e apresentar dados locais é a forma de convidar mais soluções para atuarem com impacto, assim como dar visibilidade a iniciativas em busca de apoio e investimento.

Com sensatez e pensamento crítico, o Mapa é um indutor de uma economia sustentável. E, neste contexto, ampliam-se cada vez mais a diversidade e o potencial para novos investimentos ambientalmente limpos.

Os negócios de impacto verdes são maioria no Nordeste —mais de 49% geram benefícios ambientais, além de resultados financeiros economicamente saudáveis.

O Ceará, sempre conectado ao cenário de mudanças e de transição, e na condição de importante catalisador do desenvolvimento nordestino, tem liderado iniciativas que contribuem, efetivamente, para o equilíbrio entre o econômico e o socioambiental. A atração de um hub de hidrogênio verde no complexo portuário do porto do Pecém é um bom exemplo.

Os dados apontam para uma grande decisão: é possível ficar no Nordeste e gerar impacto social e ambiental. É possível transbordar e dilatar os corações de todos —líderes, empresários, pensadores, pesquisadores, ONGs, poder público—, contaminados pelos sonhos daqueles que transformam.

Sonhos que hoje são chamados de igualdade racial, social e de gênero; de sustentabilidade ambiental; e, tantos outros que impactam vidas hoje e no futuro.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

17/06/2022

A performance do projeto Re-ciclo potencializa a agenda de reciclagem em Fortaleza

O manejo dos resíduos sólidos urbanos é um desafio que está na agenda das cidades brasileiras, notadamente as grandes cidades. Atentem para alguns números aproximados:

  1. O sistema de coleta pública de resíduos na cidade de Fortaleza, capital do estado do Ceará, considerando seus vários tipos e equipamentos, trabalha com um volume de 130 mil toneladas de resíduos por mês;
  2.  O Brasil, historicamente, tem tido um desempenho muito aquém do esperado em reciclagem. Estudos apontam para um índice de reciclagem inferior a 4% no Brasil, enquanto, em várias cidades europeias, por exemplo, esse mesmo índice supera 50%.

Uma mudança de paradigma que encare a temática dos resíduos sólidos urbanos como fonte de renda e oportunidades é o caminho com maior valor agregado. Para tanto, é necessária a promoção da economia circular — o fomento ao reuso e a reciclagem são opções prioritárias à disposição final nos aterros sanitários.

Tal cenário só será possível se a prática da coleta seletiva, bem como uma logística adequada, que leve em consideração a capilaridade do território e a participação de toda a cadeia econômica, for estimulada e posta em prática como política pública.

Para tanto, é necessário aprimorar os processos, práticas, técnicas e paradigmas, até então estabelecidos como padrões para a coleta seletiva. Esses objetivos só serão alcançados por meio do estímulo e adoção de práticas e projetos inovadores.

Um bom exemplo vem de Fortaleza. O município, em parceria com a agência de cooperação alemã Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e o Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), testou nos últimos 2 anos no Projeto Re-ciclo, a utilização de triciclos de carga, elétricos e mecânicos, para otimizar o volume de recicláveis coletados e melhorar as condições de trabalho de catadores. Trata-se de uma prova de conceito em cenários pontuais, testando um novo equipamento para melhorar a logística da coleta seletiva por associações de catadores.

Estamos diante de um cenário onde alguns territórios da cidade se tornaram um laboratório social. O ensaio insere mobilidade e impacto ambiental como pontos fundamentais no desenvolvimento sustentável da cidade.

Os resultados obtidos, na referida prova de conceito, revelaram que é necessário ir além do equipamento em si. Está clara a relevância de integrar outras frentes ao projeto que digam respeito à consciência ambiental e ao engajamento da sociedade civil na prática da coleta seletiva, usando perspectivas inovadoras. Adicionalmente, é preciso uma definição de rotas otimizadas, o monitoramento por meio de indicadores, o engajamento de catadores e suas associações em maior escala, bem como a integração destes com a cadeia econômica da reciclagem.

Há evidências científicas que comprovam uma correlação direta entre o potencial de geração de resíduos recicláveis com o nível de renda da população. Quanto maior o nível de renda, mais os hábitos de consumo geram resíduos recicláveis. Ou seja, bairros adensados com IDH mais elevados, que portanto concentram atividades econômicas, serviços, comércios, postos de trabalho e onde, consequentemente, há uma maior produção de resíduos recicláveis, necessitam de uma logística de coleta ainda mais inovadora e eficiente.

Diante disso, o piloto da cidade de Fortaleza estimulou a criação de uma marco legal - Lei Municipal No 11.220 de Dezembro/2021, sustentado no desenvolvimento de novos modelos de logística urbana voltado para coleta seletiva, a partir de modais ambientalmente amigáveis, com infraestrutura pública compatível – ecopontos, pontos de entrega voluntários, ciclovias, ilhas ecológicas etc) e com estratégias de engajamento da sociedade.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

09/06/2022

Por que compartilhar práticas socioambientais inovadoras impacta nos modelos de negócios?

Uma das pautas mais inspiradoras durante conversas com líderes de negócios orientados por propósitos é o desejo de compartilhar práticas ambientais e sociais inovadoras com seus ecossistemas. Um dos exemplos mais recentes que aprendi é o da Cogna Educação, empresa brasileira que fornece serviços educacionais e soluções digitais em todo o ecossistema de ensino do Brasil: programas de ensino fundamental, médio, superior e pós-graduação. A empresa atende mais de 2,4 milhões de estudantes no país e emprega mais de 23.300 pessoas

Em 2021, foram anunciados seus compromissos por um mundo melhor. Através de 14 metas, a Cogna se compromete, até 2025, em aumentar o valor sustentável que o negócio traz para a sociedade e para os stakeholders, todas alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e divididas em três pilares: Equilíbrio entre Pessoas e Natureza; Educação, Diversidade e Direitos Humanos; e Governança e Integridade.

Naquilo que se refere ao pilar de equilíbrio entre pessoas e natureza, uma das metas é alcançar 90% da energia consumida na rede proveniente de fontes renováveis, além de impactar mais de 1,8 milhão de pessoas com conteúdos de educação ambiental. “Nossa agenda ESG está diretamente alinhada com as melhores práticas de sustentabilidade e do setor educacional. Ainda, enquanto uma empresa de educação, não poderíamos deixar de ter uma meta visando levar educação ambiental para a maior quantidade de pessoas possível. Queremos empoderar a população para que elas sejam agentes de transformação da sua realidade. Fazemos isso por meio da educação e a preocupação com o meio ambiente é parte fundamental desse propósito”, analisa Juliano Griebeler, que, além de sócio, é Diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Cogna.

As ambições começam a se tornar realidade. Por meio da Kroton, vertical B2C de ensino para jovens e adultos, e mantenedora das marcas de ensino superior como Anhanguera, Unopar e Pitágoras, espalhadas por vários estados brasileiros, estão sendo implementados projetos de eficiência energética e de reuso de água, além da coleta seletiva, colocando em prática o objetivo de mitigar o impacto ambiental causado.

Nas unidades de ensino superior localizadas em Jaú, São Paulo, e em Eunápolis, na Bahia, foi possível avançar nas obras para uso de energia solar, com autogeração de energia limpa, renovável e sustentável, resultando em uma eficiência mensal que varia de 60% a 80% para as instituições.

Já em Paragominas, no Pará, e, em Taubaté, São Paulo, houve a substituição de luminárias de vapor metálico por tecnologia LED com alimentação solar ou fotovoltaica. Nas faculdades de Jundiaí, também em São Paulo, e em Londrina, no Paraná, um sistema de captação de água de chuva vai aumentar o reuso de água nas unidades.

Outro exemplo é a iniciativa socioambiental do programa “Tampinha Legal”, que possui caráter educativo em economia circular da indústria de transformação do plástico da América Latina. O projeto busca conscientizar toda a população, criando pontos de coleta nas escolas, prédios e igrejas para arrecadar tampinhas plásticas de todos os modelos e cores, com a finalidade de trocar esse material por órteses infantil para doação. O destino final dos mesmos é ajudar as crianças que necessitam, temporariamente ou definitivamente, de aparelhos ou dispositivos ortopédicos, cujo propósito é alinhar, prevenir, corrigir ou melhorar a função das partes móveis do corpo.

"As empresas devem estar atentas para os impactos socioambientais nas comunidades em que se fazem presente, e para isso é necessário mensurar de forma recorrente o que está sendo produzido e estabelecer planos para uma melhora contínua de suas ações. A agenda de ESG faz com que as empresas deem mais transparência a essa questão e traz benefícios verdadeiros para a sociedade quando implementada da forma adequada”, finaliza Griebeler.

Exemplo como esse da Cogna, modelo empresarial que tem como propósito impactar as pessoas por meio da educação por um mundo melhor, reflete um movimento crescente de empresas assumindo compromisso pelos efeitos de suas operações. Até porque é mais eficaz liderar com educação e depois começar com ações climáticas fáceis e acessíveis de adoção.

Infundir medidas de baixo impacto em todos os aspectos do negócio significa considerar as implicações de sustentabilidade em todas as decisões. Ao criar padrões de boas práticas sociais e ambientais, as empresas podem mudar de uma cápsula de produto sustentável única para um modelo de negócios mais integrado.

Se vamos ficar em nossas próprias bolhas ou tribos, podemos muito bem viver em uma ilha. Ocorre que vivemos em comunidade, e é a comunidade que impulsionará essa mudança maior de que precisamos. Quando há colaboração com outras pessoas e com ideias semelhantes, isso gera mudanças maiores.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

02/06/2022

O impacto dos novos modelos mentais nos negócios

É praticamente consenso, hoje, entre os líderes, admitir em algum momento que os negócios são lentos, burocráticos, não inovadores o suficiente, e que seus colaboradores não andam motivados. Eles estão prontos para experimentar a próxima moda porque não sabem mais o que fazer.

Ser um alto executivo carrega um alto preço para suportar uma pressão incrível sobre os ombros. Alguns até se adaptam a essa condição da melhor maneira possível, mas chegam à beira do esgotamento. Me parece que há um tabu em torno do tema. Imagino que seja porque deu um trabalho duro para chegar ao topo e admitir que está infeliz pode parecer assumir uma derrota.

De um lado, a vida dos negócios mudou: a complexidade, a escala, as demandas das partes interessadas, as expectativas do capital humano… Por outro, surge uma complexidade crescente de iniciativas e programas para tornar as coisas mais ágeis, para capacitar as pessoas. Por exemplo, iniciativas de mudança de cultura. Mas, na verdade, esses programas, de modo bem otimista, prolongam até certo ponto a vida útil do sistema de gestão do negócio. Na grande maioria não funcionam ou, pasmem, aumentam a complexidade.

Como consequência, um número crescente de executivos está abrindo mão de sua liderança nesses cenários de negócios. Em alguns casos, esse movimento está causando uma crise no modelo de gestão tradicional.

Nem todos esses líderes abandonam o mundo corporativo. Alguns deles vão trabalhar em novas organizações ou transformam as organizações existentes de maneiras extraordinárias. Na nova jornada, os líderes desafiam novos modelos mentais, olham para o seu negócio, e para a gestão, de uma maneira totalmente diferente. Eles são capazes de identificar que um conjunto diferente de estruturas e práticas organizacionais, com tentativas e erros, é muito mais poderoso, como também alma e propósito são grandes diferenciais.

De acordo com Frederic Laloux, esse é o momento em que o negócio salta para um sistema de gestão mais poderoso e centrado na autogestão. Ou seja, o negócio opera inteiramente sem uma relação chefe-subordinado. Para o pensador de negócios, isso parece loucura, mas é assim que sistemas extremamente complexos, como o cérebro humano ou os ecossistemas naturais, operam. Os líderes estão descobrindo a maneira de operar negócios com os mesmos princípios.

Os sistemas complexos do mundo não funcionam com hierarquia porque a hierarquia falha em sistemas com muita complexidade. No cérebro humano, há 85 bilhões de células; não há uma célula que seja o CEO e algumas outras células que acreditam ser o comitê executivo.

Se você tentar executar o cérebro de uma maneira rígida e hierárquica, ele para de funcionar imediatamente. Os ecossistemas complexos, como uma floresta, o corpo humano ou um órgão, se autogerenciam.

É bom que se diga que autogestão não significa ausência de estrutura. Há necessidade de estrutura, mas não necessidade de um chefe!

Ainda inspirado em Laloux, há uma série de estratégias que os líderes fazem para iniciar a jornada. Alguns montam uma equipe de entusiastas com o mandato de experimentar e prototipar. Em vez de impor a autogestão de cima para baixo, o CEO nutre essa equipe, garante que ela se reúna, que as pessoas aprendam com os sucessos umas das outras e que essas pessoas sejam protegidas, porque o modelo tradicional vai revidar. Essas ilhas de sanidade criam um transbordamento e fazem com que outras pessoas queiram participar.

Esse tipo de mudança vai na contramão do conceito tradicional de gestão. Há questões complexas sobre poder e controle, e sobre quais funções os gerentes terão nesse novo modelo mental organizacional. Um bom caminho é ter um facilitador experiente que não foge de conversas tão difíceis e importantes para ajudar as pessoas nesse novo mundo.

Outro ponto a ser considerado é o impacto que os millennials estão causando no local de trabalho. Eles têm um foco super relevante no propósito. Muitos millennials entendem instintivamente a autogestão. Até porque cresceram com a internet, um lugar sem hierarquia ou chefes no sentido tradicional. Eles estão acostumados com o fato de que qualquer um pode expressar algo, e então, se for bom, aquilo se espalhará, independentemente do título de qualquer pessoa.

A maioria deles também foi criada de maneira muito menos autoritária. Eles estão acostumados a questionar as coisas, cresceram sabendo que há desafios ecológicos assustadores, e, por isso, simplesmente ganhar dinheiro muitas vezes não é um propósito suficiente para motivá-los.

Os millennials são indutores da aceleração que pode acontecer no mundo corporativo daqui dez anos, quando alguns desses jovens subirem e chegarem ao topo. Se eles não tiverem saído antes!

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

25/05/2022

Como o senso de propósito impacta os negócios?

O propósito é pessoal, mas os negócios exercem um papel importante na forma como o expressamos. Ou seja, o trabalho tem papel fundamental em dar às pessoas um senso de propósito.

Assim, permitam-me perguntar: Qual o impacto que o propósito tem no seu negócio? Qual o impacto que sua empresa tem em seu próprio senso de propósito?

Quando pensamos sobre o propósito individual, ele quase sempre é traduzido em um sentido abrangente: propósito é o que importa na vida de uma pessoa. Eu gosto de usar o termo “azimute”, pois traduz a ideia de se ter um senso de direção. Mas, acredito que sabemos intuitivamente como é ter propósito ou como ser de propósito. É quando você se sente energizado, inspirado, ligado e vivo.

No contexto pessoal, pensar em propósito é ter clareza do que exatamente o trabalho significa para cada um, ou o que se tem a tirar do trabalho. É apenas um cheque que facilita o resto da minha vida ou é algo mais significativo?

É preciso deixar para trás a arrogância daqueles líderes que pensam que ditam às pessoas qual é o propósito delas. Isso é um absurdo. As pessoas decidem qual é o seu propósito. É função do líder descortinar os valores mais elevados do negócio – esse é o caminho que ajuda as pessoas a levar os valores e missões do negócio a um ponto mais preciso do que importa para elas e descobrir se elas podem ou não criar uma função ou uma experiência dentro da organização que ajude a atingir isso.

No negócio, a pessoa está no papel principal, e em segundo, a organização. A empresa tem papel catalítico, não está na frente.

A geração do milênio vê o trabalho como sua vocação de vida. O que isso significa é que eles procuram oportunidades no trabalho que fazem diariamente. E, concretamente, constroem e contribuem para o que acreditam ser seu propósito.

Enquanto isso, a geração Z não quer ser associada a pessoas que são desprezíveis ou fazem coisas que prejudicam o mundo. Quer estar associada a pessoas que são uma força do bem.

O comportamento e as escolhas da geração do milênio e da geração Z tornam mais verdadeiras as novas funções que os negócios têm. O trabalho desempenha uma contribuição econômica, em termos de carregar e sustentar as pessoas que você ama. Isso levará cada um ser muito mais específico em termos das atividades para as quais esses indivíduos gostariam de dedicar seu tempo e seu esforço.

Por outro lado, há quem entenda que o propósito organizacional simplesmente não importa muito. Para essas pessoas, é apenas um cheque. E sabe por quê? Porque o propósito pessoal, o propósito individual, é primordial.

Há uma quantia que as pessoas dão para o trabalho ou vocação. Esse é o espaço onde a empresa pode atuar, e os negócios precisam tentar maximizar esse valor.

Um dos maiores insights que a empresa pode ajudar a colaboradora ou colaborador é descobrir qual é realmente o seu propósito.

De acordo com Naina Dhingra e Bill Schaninger, atualmente, quase sete em cada dez funcionários estão refletindo sobre seu propósito por causa do COVID-19. Os funcionários que dizem que vivem seu propósito no trabalho têm seis vezes e meia mais chances de relatar maior resiliência. Eles são quatro vezes mais propensos a relatar melhor saúde, seis vezes mais propensos a querer permanecer na empresa e uma vez e meia mais propensos a ir além para tornar sua empresa bem-sucedida.

Ou seja, quando o negócio ajuda seus funcionários a encontrar e viver seu propósito no trabalho, eles se saem melhor e são mais propensos a querer ficar, bem como a querer ir além.

Mais uma vez, os indivíduos têm propósito. As empresas não dão isso a uma pessoa. A empresa como uma entidade, como um grupo de pessoas coletivamente tentando fazer algo, pode ter um propósito declarado e compartilhado.
O desafio é ir além da atratividade dos indivíduos que veem o propósito declarado da organização para ter uma noção se é real ou não, e se fortalece ou não seu sentimento de pertencimento.

Assim, as organizações funcionam como um canal. Elas podem tornar seu propósito visível. Elas podem mostrar claramente uma ligação entre o que estão pedindo a uma pessoa para fazer e o propósito declarado do negócio. Mas, é o indivíduo sozinho que tem o poder para decidir qual é o seu propósito e se ele se alinha ou não com o da empresa.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

20/05/2022

O papel estratégico dos jovens na criação de tecnologias mais responsáveis

Nunca antes houve tantos investimentos em ecossistemas de bases tecnológicas que reconhecem os jovens como partes interessadas, interdependentes e parceiros ativos. Os poderes cultural, político e econômico da juventude têm sido apoiados e ampliados para tornar os resultados da tecnologia mais responsáveis, mais equitativos e mais produtivos para o benefício da sociedade e do planeta.

Ora, basta entender o impacto gerado por jovens conectados à internet como uma força poderosa da tecnologia, tanto como um bloco de consumo quanto como detentores de poder cultural exponencial. No entanto, seu poder não foi ainda suficientemente reconhecido e aproveitado por resultados tecnológicos mais inclusivos e equitativos.

Assim, o momento é oportuno para expandir a discussão e a compreensão das questões relacionadas à tecnologia em torno das quais os jovens estão se organizando. A construção de uma agenda responsável ajudará a desenvolver a compreensão de quais futuros de tecnologia os jovens desejam ver e quais os obstáculos que eles enfrentam nas organizações em que atuam.

Os investidores privados devem ter clareza se realmente querem apoiar os jovens como líderes, construtores e fabricantes de tecnologia. Caso sim, precisam entender com o que eles se importam e o que os impedem de perceber a mudança pela qual estão trabalhando.

Há uma perspectiva inicial que deve ser bem posta: reconhecer que a tecnologia tem um impacto diferencial sobre os humanos que dependem dela. Esse impacto varia de acordo com classe socioeconômica, raça, gênero, habilidade, identidade religiosa e idade ou geração. Como em tantas áreas, a tecnologia tem um impacto único sobre os jovens que amadurecem ao lado dela.

Os jovens estão numa posição estratégica para serem líderes no domínio da tecnologia e da cultura da internet. O mundo abalado pela pandemia clama por novos relacionamentos humanos com a tecnologia, além de questionar os negócios tradicionais.

Os jovens não são apenas nosso futuro e, em alguns casos, líderes em tecnologia. Eles são nossos formuladores de políticas atuais e futuras, líderes da sociedade civil, educadores, designers, CEOs e artistas. Todos herdarão os problemas de hoje e decretarão as soluções de amanhã. E em questões amalgamadas com tecnologia, como política, economia, clima e justiça racial, muitos tendem a exigir mais equidade, pertencimento e responsabilidade.

Para os jovens conectados, em todo o mundo, o poder cultural geralmente está na capacidade e na tendência aguçadas de usar plataformas de tecnologia para mudar as conversas. Os nativos digitais estão conscientes do complexo papel que a tecnologia desempenha em suas vidas pessoal e profissional; eles refletem ativamente, participando e moldando sua própria cultura digital.

No mundo corporativo, o mercado deve perceber que os jovens usam plataformas online para criticar as desigualdades que suas comunidades vivenciam no digital e também alavancar ferramentas tecnológicas para alcançar seus objetivos na organização.

Este é apenas o começo do impacto que será gerado pelos jovens exercendo suas lideranças tecnológicas. À medida que nos aprofundamos nessas questões, outros exemplos de jovens se organizando em torno de uma visão de futuro tecnológico responsável e ético surgirão. O importante é aprender com muitos deles e encontrar maneiras de ampliar – cada vez mais – o seu real papel focado em tecnologia responsável.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

11/05/2022

Inovar para impactar

Diariamente, os negócios são desafiados na capacidade de desenvolver, entregar e dimensionar novos produtos, serviços, processos e modelos de negócios que atendam rapidamente às demandas do mercado. A inovação é como um músculo que todas as organizações precisam fortalecer.

Há uma coleção de atributos e comportamentos que parecem sustentar o desempenho da inovação como estratégico na nova ordem econômica, onde o lucro e o impacto são lados de uma mesma moeda.

Em 2019, a McKinsey demonstrou uma correlação forte e positiva entre o desempenho da inovação e o desempenho financeiro. Ou seja, os negócios inovadores estão ampliando sua liderança de forma mais visível em duas áreas.

A primeira é a capacidade de definir uma aspiração ousada, mas plausível, para a inovação, fundamentada em uma visão clara do valor econômico que a inovação precisa oferecer para gerar valor para a sociedade. A segunda é escolha dos investidores em portfólio de iniciativas coerentes e equilibradas com risco de tempo e com recursos suficientes para serem vencedores.

O que se observa é que os negócios inovadores se beneficiam de atividades e práticas interdependentes e diversificadas em toda a organização. Líderes de inovação eficazes estimulam as empresas a gerar, prototipar, desenvolver, reduzir o risco, entregar e dimensionar iniciativas de inovação.

Por outro lado, investir na diversidade e na excelência do capital humano fortemente integrado desafia alguns líderes a sair de suas zonas de conforto ao mesmo tempo em que lhes dá visibilidade do portfólio de projetos em andamento para que possam investir com confiança, tempo e fundos, e assim obter o melhor resultado.

De acordo com Daniel Cohen, Brian Quin e Erik Roth, a inovação, quase sempre, é um problema de alocação estratégica de investimentos. Não se trata apenas de criatividade e geração de ideias.

No entanto, muitos líderes falam sobre a importância da inovação como um catalisador para o crescimento e esquecem de agir quando se trata de mudar as pessoas, ativos e atenção da administração para apoiar suas melhores ideias.

Os portfólios desses negócios tendem a ser recheados de melhorias de produtos de curto prazo e outros esforços presumivelmente de “alta certeza”, muito mais escassos em avanços potenciais ou novos modelos de negócios – formas de inovação que são “menos certas”, mas muitas vezes possuem maior potencial para gerar, de forma sustentável, novas fontes de crescimento e retornos extraordinários.

Dito isso, o melhor caminho é co-criar o potencial de inovação do negócio para transformar a organização, o setor e a sociedade.

Isso deve abranger uma visão ousada e, ao mesmo tempo, plausível, que descreva em detalhes como será a mudança gerada, traduzida numa estratégia e ações que incluam métricas qualitativas e quantitativas para medir o impacto, bem como como atribuir responsabilidades para os líderes e outras partes interessadas para entregar resultados de inovação. Percebam que todos esses elementos – coletivamente – são a aspiração e se reforçam mutuamente.

Essa aspiração é ousada, específica e mensurável. Assim, fica mais fácil para capital humano entender a magnitude do que precisa realizar e moldando e preenchendo seus portfólios de inovação. Além disso, eles não estão apenas medindo o progresso ao longo do caminho, mas também gerenciando-o, traduzindo as iniciativas em objetivos distintos para garantir que os indivíduos façam sua parte.

Priorizar e escolher oportunidades de inovação é uma tarefa inerente à alta administração. Os c-level estão melhor posicionados para dar uma olhada abrangente nas iniciativas e recursos de todo o negócio e, em seguida, fazer perguntas difíceis sobre como melhorar o portfólio. A ligação entre aspirar e escolher é muito importante, pois parece ser impossível realocar quantidades significativas de recursos se o portfólio de iniciativas inovadoras não estiver claro.

Aspiração e boas escolhas de portfólios são fundamentais para inovar e gerar impacto positivo. Elas facilitam reconhecer como a inovação sofre quando as ideias ruins vão longe demais, levando a lançamentos de produtos fracassados, decepcionantes, de baixo impacto social e com retração do negócio.

Certamente, o risco é intrínseco à inovação. Ainda assim, o que se pode é reduzir as chances de fazer apostas ruins por meio de melhores processos de tomada de decisão, onde o centro deve ser o potencial e a escala do impacto que será gerado.

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.

03/05/2022

Mude para o ESG enquanto ainda é tempo

A sustentabilidade é uma prioridade declarada, e, aliada ao impacto ambiental e social, tem se tornado a prioridade número 1 dos executivos em todo o mundo.

Grandes mudanças climáticas, aquelas associadas com incêndios florestais, tempestades massivas e ondas de calor mortais, despertaram o mundo corporativo para as duras realidades do nosso planeta.

As iniciativas ambientais, sociais e de governança (ESG), como nunca antes, são prioridades – e crescentes – para os conselhos das empresas que estão a par da evolução ou ajustando modelos de negócios.

De acordo com uma pesquisa elaborada em 2022 pelo The Harris Poll para o Google, os tomadores de decisões – c-level – estão procurando investir mais em programas de sustentabilidade e tecnologia do que em qualquer outra área este ano, embora revele também que eles não têm certeza por onde começar a jornada para a sustentabilidade.

Apesar das melhores intenções, a confiança dos executivos em esforços de sustentabilidade pode ser mal aplicada. O problema parece estar relacionado ao propósito do negócio e à medição do impacto.

Aprofundando os dados do The Harris Poll (foram ouvidos 1.491 CEOs e outros executivos c-level de empresas com mais de 500 funcionários, de 16 diferentes países), mais da metade dos executivos relatam que suas empresas exageram os esforços de sustentabilidade. Ou seja, há uma admissão que suas próprias companhias praticam greenwashing. Cerca de dois terços dos c-level entrevistados disseram questionar a autenticidade das iniciativas de sustentabilidade.

Outro ponto de atenção é a constatação de que muitos executivos não estão medindo o impacto. A pesquisa mostrou uma lacuna preocupante entre o quão bem as empresas pensam que estão indo e a precisão com que são capazes de medir esse progresso.

Apenas 36% dos entrevistados disseram que suas organizações possuem ferramentas de medição para quantificar os esforços de sustentabilidade, e apenas 17% estão usando essas medições para otimizar a operação com base nos resultados.

Sem uma medição precisa é difícil relatar um progresso genuíno. Assim, parece haver uma hipocrisia verde. Os negócios exageram seus esforços não legítimos de sustentabilidade.

A liderança para a sustentabilidade começa no topo do organograma. A agenda ESG é ética e responsável. Está centrada na alta liderança dos negócios, nos membros do conselho e líderes seniores. A abertura de espaço para os executivos deve ser consequência de quão estratégica e prioritária é a agenda da sustentabilidade para o legado do negócio.

Os executivos querem mais transparência e oportunidade para superar as principais barreiras. É premissa comum compreender que se os líderes empresariais puderem ser mais honestos sobre os problemas que enfrentam para se tornarem mais sustentáveis ​​do ponto das boas práticas ambiental e social, eles poderão fazer progressos mais significativos.

Reconhecemos que construir um negócio mais sustentável não é fácil. As equipes ESG devem ter assento do lado da alta liderança do negócio para construir um futuro mais sustentável e longevo.

Diante deste contexto todo, o Pacto Global lançou um alerta cheio de ironia. Acertou na mosca ao divulgar o espetacular vídeo que propõe a mudança dos negócios para Marte: “Imagine um lugar onde as empresas não têm necessidade de preservar o meio ambiente, onde não existe nenhuma política de equidade de gênero ou racial e a emissão de gases do efeito estufa é liberada. Sim, o paraíso socioambiental existe. E fica a apenas 277 milhões de km da Terra”. Pense bem antes de se mudar, na Terra ainda há escolha!

Haroldo Rodrigues é sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S.A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Ceará.