Embora os carros continuem a ser vitais para muitos, o futuro do transporte e da mobilidade é muito mais diversificado. A crise da Covid-19 carrega uma mudança na qual as pessoas estão repensando seu comportamento de mobilidade. 

O que se observava já antes da pandemia era um movimento nas cidades por redes de infraestrutura para ciclistas e pedestres, calçadas mais largas, entroncamentos mais seguros, espaços protegidos para ciclistas e corredores exclusivos para ônibus. Um bom exemplo é a cidade de Fortaleza!

Com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), e com forte apoio principalmente da geração jovem, o nosso comportamento de mobilidade está na direção de soluções mais sustentáveis ​​e saudáveis ​​para a reestruturação do espaço urbano. 

Notadamente, a sociedade clama por investimentos que: i. forneçam  acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis e sustentáveis, melhorando a segurança no trânsito; e, ii. expandam o transporte público, dando atenção especial às necessidades dos mais vulneráveis ​​da sociedade: mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos.

O transporte sustentável tem claramente uma dimensão social. A tendência atual relacionada ao transporte sustentável e à mobilidade destaca o transporte público inclusivo, inovador e seguro, que leva em consideração as necessidades especiais de diferentes grupos da população.

Os negócios em sistemas urbanos de transportes precisam adotar investimentos centrados no ser humano, beneficiário maior do desejo de consumo e que usa a mobilidade para esse fim. Isso inclui passageiros, funcionários, empregadores, cidadãos e outras partes interessadas.

Neste contexto, as mulheres enfrentam desafios diferentes dos homens, sejam eles de inclusão, segurança, acessibilidade ou até inserção no mercado de trabalho no setor de transportes. A mobilidade das mulheres é mais multimodal e intermodal do que os padrões de viagem dos homens.

Como a inovação pode contribuir para isso? Em primeiro lugar, dados e análises desagregados por gênero são cruciais para o planejamento e a concepção de redes de transporte com melhor compreensão das necessidades específicas de mobilidade. 

Embora a inovação possa facilitar uma força de trabalho mais diversificada, muitos obstáculos para as mulheres ainda podem ocorrer. O número de mulheres entre os tomadores de decisão continua baixo. A segregação de gênero na força de trabalho de transporte significa que as mulheres estão tipicamente concentradas nas funções administrativas e de atendimento ao cliente com salários mais baixos. Como resultado da automação, as mulheres podem perder seus empregos. Mas a digitalização no transporte também criará novos empregos. Portanto, é essencial que meninas e mulheres tenham acesso à educação, treinamento e habilidades necessárias para essas oportunidades de emprego.

No Brasil, ainda lutamos contra os preconceitos socioculturais e os estereótipos de gênero, a falta de treinamento e os desafios relacionados ao equilíbrio entre vida profissional e familiar. A violência física, sexual e psicológica, especialmente em transporte público, carona e economia compartilhada, continua sendo um desafio. Outro bom exemplo é a plataforma Nina!

A pandemia Covid-19 afetou a nossa sociedade e a nossa economia. Assim, duas perguntas são oportunas, como esse surto mudará nosso comportamento de viagens a longo prazo? A crise da Covid-19 trouxe apenas enormes perdas para o setor de transporte ou vamos aproveitar a oportunidade para mudar para um futuro mais sustentável? Essas questões inquietam as mentes dos investidores. 

Muito já se falou sobre o fato de que esta crise aumentará o fosso entre as pessoas que têm oportunidades e as que não têm. Aqueles que já estão em uma posição mais vulnerável são os mais afetados pela insegurança financeira, perda de emprego, menos acesso a diferentes opções de mobilidade e maior risco de isolamento social. 

A resposta aos investidores está na direção de fomentar inovações em transporte e mobilidade, pois, as novas tecnologias e a digitalização oferecem soluções que, por certo, contribuirão para um transporte mais inclusivo e sustentável para todos. 

Alcançar a meta de sustentabilidade na mobilidade urbana também significa considerar as necessidades dos diferentes grupos de usuários. Adotar uma perspectiva de gênero emerge como uma tarefa desafiadora para os investidores do setor.

Haroldo Rodrigues

Sócio-fundador da investidora in3 New B Capital S. A. Foi professor titular e diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Universidade de Fortaleza e presidente da Fundação de Amparo a Pesquisa do Ceará.